OS DESAFIOS E OS CAMINHOS PARA O CRESCIMENTO DAS ECONOMIAS DA ÁSIA CENTRAL EM 2023
No início de todo ano, o Banco Mundial divulga um relatório com as suas projeções de crescimento econômico para as diversas regiões do mundo. O tom alarmista do relatório chama a atenção neste ano, em função da revisão do crescimento esperado para o ano de 2023. Se antes, em julho de 2022, projetava-se uma elevação de 3% da economia mundial, a projeção hoje, em janeiro de 2023, reduziu em -1,3%, isto é, uma elevação de apenas 1.7% do produto mundial (BANCO MUNDIAL, 2023). O banco elenca o prolongamento do conflito entre Rússia e Ucrânia, as políticas monetárias mais restritivas, a alta dos alimentos e da energia, a fraca demanda externa bem como as instabilidades econômicas chinesas como os principais freios à expansão econômica global.
Dentro desse panorama, as projeções para a Ásia Central e suas economias se destacam pela ausência de uma perspectiva de retração da economia. Mesmo com a estagnação da região (previsão de 3,9% assim como em 2022), espera-se dos Estados da região um crescimento acima de 3.5%, tendo o Tajiquistão a maior elevação (na ordem de 5%) de seu PIB (BANCO MUNDIAL, 2023). Para que o produto interno prospere, é preciso reconhecer não só as adversidades externas supracitadas, mas também as complicações internas atuais dos países da região e, para as tais, traçar políticas.
A começar pelo ambiente internacional, a adoção de políticas restritivas, por meio da alta de juros como combate à inflação, somada ao encarecimento das commodities e dos recursos energéticos, constitui um problema, uma vez que se encarece o crédito, bem como o custo dos bens primários, enfraquecendo o consumo privado, ou seja, perdem-se potenciais mercados consumidores das commodities e dos recursos energéticos centro-asiáticos (VASCONCELLOS, 2015). Em segundo plano, a performance econômica chinesa abaixo da meta prevista se coloca como mais uma barreira, tendo em vista que isso implica uma demanda menor das exportações de gás natural do Uzbequistão e Cazaquistão, gerando impactos diretos na balança comercial e no balanço de pagamentos desses dois países. Em torno do ambiente doméstico, a sucessiva queda da renda per capita nos últimos anos e a persistente inflação de alimentos de dois dígitos, atrelados a uma intensa desvalorização das moedas nacionais, são, sem dúvida, os maiores desafios internos para os países da Ásia Central neste ano.
Em face das adversidades que permeiam este início de ano, a resposta dos países centro asiáticos ao cenário deve se ater à urgência, em primeira instância, e à retomada do crescimento a médio e longo prazo como segunda opção. Dado o cenário inflacionário de dois dígitos, a exemplo dos índices de preços de 15%, 15% e 12,3% de Quirguistão, Turcomenistão e Uzbequistão, é preciso entender a natureza dessa subida generalizada do preços, a qual é essencialmente causada por choques de oferta (TRADING ECONOMICS, 2023; VASCONCELLOS, 2015). Esses choques foram iniciados pelo conflito russo-ucraniano e provocaram a disparada da inflação no mundo, segundo o próprio Banco Mundial (BANCO MUNDIAL, 2023). A disparada foi reforçada pelo inverno mais rigoroso desde 2008, na Ásia Central, responsável por acabar com as produções agrícolas (EURASIANET, 2023). Nesse sentido, as políticas a serem tomadas devem se basear na urgência, isto é, no compromisso de alimentar famílias em um momento climático delicado. Portanto, é acertada a decisão de tabelar preços e banir exportações de bens agrícolas, como fizeram Uzbequistão e Cazaquistão, contudo é preciso pensar a revogação dessa restrição e uma nova taxa de juros, visto que ambas as medidas apresentam o potencial de aumentar a entrada de divisas, reduzir o deficit externo e reverter a desvalorização cambial, de modo a reduzir o efeito da alta dos custos e do pass through advindo do câmbio e o fortalecimento da inflação.
Por fim, as estratégias econômicas a serem traçadas pelos países centro asiáticos, em 2023, não devem ser pautadas somente pelo imediatismo de curto prazo, mas também pela preocupação com a prosperidade a médio e longo prazo. No tocante a essa máxima, é fundamental priorizar os investimentos públicos, especialmente em infraestrutura e logística, além da criação de um ambiente dinâmico, através de incentivos governamentais, para as atividades e trocas econômicas, visto que tais políticas trazem um enorme retorno na geração de renda por meio de seus efeitos multiplicadores e empregatícios (POMFRET, 2021). Entretanto, em um cenário de deterioração fiscal extrema, como é o caso do Tajiquistão e do Uzbequistão, em que a dívida pública representa 47% e 40 % do PIB, respectivamente, a reestruturação da dívida pública dos Estados é fundamental (TRADING ECONOMICS, 2023). Sendo assim, o ajustamento das contas públicas, via redução de gastos, mas sem a discriminação dos investimentos e das reformas necesárias, faz-se imprescindível para a sustentabilidade do crescimento e o asseguramento das boas condições economicas previstas para a Ásia Central .
Por João Pedro
Revisado por Jéssica Guerra
REFERÊNCIAS
Satulbadina,Assel.Economic Growth in Central Asia to Remain Flat in 2023, Says World Bank. Astana Times , 12 jan. 2023. Disponível em:
https://astanatimes.com/2023/01/economic-growth-in-central-asia-to-remain-flat-in-2023-says-world-bank/ . Acesso em : 30 jan. 2023.
VASCONCELLOS, Marco Antonio Sandoval de. ECONOMIA Micro e Macro. São Paulo: Atlas. 2015.
WORLD BANK. Global Economic Reports, 2023. Disponível em: https://openknowledge.worldbank.org/bitstream/handle/10986/38030/GEP-January-2023.pdf . Acesso em: 28 de jan. 2023.
POMFRET, Richard. Central Asian Economies: Thirty Years After Dissolution of the Soviet Union, 2021. Disponível em: file:///C:/Users/PC/Downloads/Central%20Asian%20Economies%20-%20Thirty%20Years%20After%20Dissolution.pdf . Acesso em: 29 de jan. 2023.
Uzbekistan, Kazakhstan ban food exports amid wild winter inflation. Eurasianet, 25 nov. 2022. Disponível em: https://eurasianet.org/uzbekistan-kazakhstan-ban-food-exports-amid-wild-winter-inflation .Acesso em: 29 jan. 2023.
Tajikistan indicators. TRADING ECONOMICS. Disponível em: https://tradingeconomics.com/tajikistan/indicators. Acesso em: 31 de jan. 2023.
Uzbekistan indicators. TRADING ECONOMICS. Disponível em: https://tradingeconomics.com/uzbekistan/indicators. Acesso em: 31 de jan. 2023.
Kyrgyzstan indicators.TRADING ECONOMICS. Disponível em: https://tradingeconomics.com/kyrgyzstan/indicators . Acesso em: 31 de jan. 2023.
