Reduzindo os impactos da mudança climática: o potencial da Ásia Central em energias limpas

Boletim Brasil & Oriente
4 min readNov 23, 2022

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Fonte: New Europe | Reprodução: EPA/OLIVIER MAIRE.

Após firmarem acordos e criarem projetos para reduzir os danos do aquecimento global, tendo como exemplo o Acordo de Paris e o desenvolvimento do mercado global de carbono, a 27ª Conferência das Partes na Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 27), que está a ocorrer neste mês de novembro, volta a reunir chefes de Estado, ativistas e representantes da sociedade civil do mundo todo, a fim de elaborar estratégias para minar os danos causados pela mudança climática.

Basta pesquisar em quaisquer plataformas de busca para perceber o aumento dos eventos climáticos extremos, o crescimento recorde da emissão de gases do efeito estufa, assim como o surgimento de refugiados climáticos reconhecidos pela ONU, que são pessoas forçadas a deixarem seus lares, com condições de vida precárias, em vista de eventos climáticos desastrosos. Podemos observar, em todos os continentes, cada qual com sua peculiaridade geográfica, as consequências do aquecimento global e a crescente busca por fontes energéticas limpas.

Nesse contexto, traremos à tona a Ásia Central, uma região rica em energias limpas, mas propensa a secas intensas devido ao clima semiárido local, que causam impactos socioeconômicos severos. Segundo estudiosos, a mudança climática é um dos principais fatores que impedem as sociedades centro-asiáticas de desenvolverem-se plenamente, uma vez que o subcontinente enfrenta problemas históricos de recursos hídricos, sendo altamente vulnerável ao aumento das temperaturas. O Mar de Aral, um grande lago localizado entre o Cazaquistão e o Uzbequistão, é o exemplo mais visível das consequências das ações humanas.

O lago está sofrendo, há décadas, com o processo de seca e de salinização, tornando-se cada vez mais real o seu desaparecimento pelos próximos anos. Nos últimos 50 anos, o Mar de Aral, segundo pesquisas, perdeu 90% da sua área, sendo considerado antigamente como um dos maiores lagos salgados do mundo. Essa catástrofe ambiental deu-se pelo uso intenso de agrotóxicos e desvio dos seus afluentes para sustentar a plantação de algodão, intensificada durante a colonização soviética. Abaixo, podemos observar imagens chocantes, captadas pela NASA, da degradação do Mar de Aral.

Fonte: USGS/NASA.

Concomitantemente, o processo de urbanização nos territórios centro-asiáticos tem contribuído com a crescente degradação ambiental, sendo que se estima, conforme apontado por Akhmetkaliyeva, que um décimo das plantas e dos animais conhecidos localizam-se na Ásia Central e no Oriente Médio. Ademais, de acordo com a pesquisadora, ressalta-se um dano regional econômico de mais de 2 milhões de dólares nas últimas décadas. Esse dano está atrelado aos desastres ambientais, como: seca, deslizamentos de terra e ondas de calor. Por caracterizar-se pela quantidade de estepes e pelo clima semiárido, além das características socioculturais dos povos nômades e do período soviético, a economia da Ásia Central é dependente da agricultura.

A escassez de recursos hídricos e a desertificação dos solos dificultam o plantio e as atividades pecuárias. Consequentemente, as comunidades dependentes da agricultura e da pecuária estão sofrendo com as mudanças climáticas, tal qual os pescadores que habitavam os arredores do Mar de Aral sofreram com o dessecamento do lago. Contudo, há esperança de reverter os danos causados por meio do potencial energético da Ásia Central, no que tange às energias limpas, principalmente as energias solar, eólica e hidroelétrica. É estimado que a região possua 5% da capacidade mundial em produzir energia solar e eólica. Apesar da escassez hídrica, o Quirguistão e o Tadjiquistão apresentam uma notável capacidade em desenvolver energia hidroelétrica.

Entretanto, é ínfimo o percentual de energias renováveis nas matrizes energéticas das nações centro-asiáticas, devido às diversas barreiras sociais, tecnológicas e financeiras. Dessa forma, o desenvolvimento do potencial de energias renováveis é desigual em todo continente. A energia hidroelétrica concentra-se majoritariamente no Quirguistão e no Tadjiquistão, sendo os territórios que mais dependem dos recursos hídricos para fins energéticos, contra o baixo percentual no Cazaquistão e Uzbequistão, que são Estados abundantes em recursos minerais para produzirem energia não-renovável.

Nesse ínterim, os territórios cazaques e uzbeques concentram quase que a totalidade do potencial regional de gerar energia solar, observando-se a concentração de 77% no Cazaquistão e 12% no Uzbequistão. Ambos os governos se comprometeram a investir na geração de energia solar. Já sobre a energia eólica, o território cazaque concentra cerca de 90% da capacidade da Ásia Central, contando com uma grande fazenda de energia eólica, construída entre 2019 e 2020. A grande maioria dos projetos de energias renováveis receberam apoio financeiro e logístico externos, principalmente da China. A União Europeia (UE) e os Estados Unidos têm intensificado o interesse pelas fontes energéticas limpas do subcontinente, desenvolvendo workshops, fóruns e projetos.

Por Rodolfo Queiroz Sverzut.
Editado por Camila Contine
Revisado por Lívia Winkler

Fontes:
AKHMETKALIYEVA, Saule. Impacts of Climate Change in Central Asia. Eurasian Research Institute. Disponível em: <https://www.eurasian-research.org/publication/impacts-of-climate-change-in-central-asia/>. Acesso em: 05 nov. 2022.

EUROPEAN UNION. European Union promotes development of renewable energy sector in Central Asia. Disponível em: < https://www.eeas.europa.eu/delegations/kazakhstan/european-union-promotes-development-renewable-energy-sector-central-asia_en?s=222>. Acesso em: 04 nov. 2022.

NEW EUROPE. Energy Week Central Asia & Mongolia 2021 highlights renewable energy project potential. Disponível: <https://www.neweurope.eu/article/energy-week-central-asia-mongolia-2021-highlights-renewable-energy-project-potential/>. Acesso em: 04 nov. 2022.

TODA MATÉRIA. Mar de Aral. Disponível: <https://www.todamateria.com.br/mar-de-aral/>. Acesso: 05 nov. 2022.

UNITED NATIONS. COP27: Delivering for people and the planet. Disponível em: <https://www.un.org/en/climatechange/cop27>. Acesso em: 04 nov. 2022.

YAU, Niva. Chinese solar investments in Central Asia: A snapshot. EURASIANET. Disponível em: <https://eurasianet.org/chinese-solar-investments-in-central-asia-a-snapshot>. Acesso em: 05 nov. 2022.

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Boletim de análises pautadas nas relações exteriores entre a República Federativa do Brasil e países do Oriente.